Daniel Ricci: Gareca, Guerrero e a gratidão represada

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É olhar para a cara de Ricardo Gareca, o argentino treinador da Seleção Peruana, para constatar que existe ali um homem sério. Taciturno até. Enciumado com a mobilização colorada para liberar Guerrero, já se anuncia desde o Peru que o carrancudo portenho nāo fará meias medidas: mandará a pretensão do Inter às favas. Guerrero, em tese, nāo será liberado.

Gareca com isso nāo estará privando o matador de jogar uma final. É pior. Impedirá Guerrero de demonstrar o mais nobre dos sentimentos, o da gratidão. Quando o mundo do futebol ironizava Guerrero, chamava-o das piores coisas, quando a crônica esportiva clamava-o como terminado para o futebol, o que fez Guerrero? Veio para o Inter tentar a tacada final. E aqui esqueceu das dores passadas, encontrou o suporte necessário e desandou a fazer gols. A química foi imediata.

Agora, na antessala de uma final, Gareca, para jogar dois amistosos que valem tanto quando um par de bergamotas (até menos, pelo presente frio pampeano que convida à bergamota), prepara-se para ferir o Inter de morte deixando Guerrero, contra sua vontade, talvez fora de uma final. A figurinha é repetida: como em 2009, na hora H, uma seleção vem e marca outro pênalti à lá Márcio Rezende contra o Inter. Difícil suportar tudo de novo.

Alguém com o espírito um tanto suíno dirá que basta Guerrero, convocado, negar-se a jogar pelo Peru. Nāo se desfaz uma estupidez com outra, rebato. Guerrero ao menos voltará para a final derradeira (caso o Inter passe, bata-se três vezes na Madeira), e poderá in loco dizer a Gareca o tamanho de seu erro, de sua insensibilidade. Guerrero merece uma solução excepcional porque é um jogador excepcional inserido numa situação excepcional. Gareca ainda tem tempo para pensar e iluminar a própria mente. Que assim seja.

E faltando o Peruano, o adversário do Inter tenderá a suspirar aliviado. Terá esquecido que o provável substituto será Rafael Sobis. E Sobis, esse jogador singular, tem a qualidade de triunfar onde vai: a faixa de campeão o busca como um beduíno quer a água no deserto. Sobis, essa múmia que joga futebol, tem a qualidade de ser decisivo em momentos chave. Vai jogar com gana, no time do coração, com toda a estrela que Deus lhe deu. O adversário sabe do risco que corre? Não, nem suspeita.

Mas isso, convenhamos, é assunto para outra hora.

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