Emerson R. da Silva: O Inter vai da freguesia à necromancia
O Inter, repleto de desfalques, enfrentou um Grêmio mais desfalcado ainda. Se olharmos no papel, comparando os jogadores à disposição, a tendência seria de uma vitória do colorado em sua casa. O problema que não é apenas isso que define uma vitória. E nesse momento justifico o título atribuído a esse texto: o Inter virou um time necromante e freguês.
O Grêmio vinha tendo atuações horríveis, tomando gols de todas as formas e de todos os jeitos possíveis, contra equipes que até então não chegam nem perto da grandeza do Clube do Povo. Qualquer time faz gol no Grêmio, menos o Inter. Isso é freguesia. Somado a isso, existia em bastidores a possibilidade e o temor do lado gremista da queda do comando técnico caso o resultado fosse um revés. O Inter fez o favor de evitar isso. Isso é necromancia: o Inter ressuscita mortos.
Bom, e quem é o culpado? São vários. Começa no presidente e chega no treinador.
Começamos com o treinador:
Eu já tinha visto medo de perder clássico, mas ontem foi visto o medo de ganhar e de perder ao mesmo tempo. Mesmo com espaços, o Inter não quis jogar. Mas a escolha foi do treinador ao sair com Musto, Lindoso e Jussa no mesmo time. Qualquer torcedor que visse aquela escalação, antes do jogo, iria fazer de tudo para convencer o treinador a mudar. Isso prova que o treinador faz o que quer e não é cobrado.
Não bastasse isso, o treinador errou nas leituras que fez na beira de campo. O Inter foi atacado o jogo inteiro pelo lado esquerdo, devido as deficiências técnicas do Jussa, e mesmo assim o treinador permitiu que o jogador terminasse a partida. E o pior: Coudet fez apenas 2 mudanças, sendo que 5 podem ser feitas e no banco existiam boas alternativas como Nonato, Praxedes e Patrick (mesmo que descontado).
Falando da direção:
O treinador do Inter reclama sempre do “elenco curto” e isso está começando a ficar cansativo. Entretanto, está visível que prometeram ao treinador um time mais competitivo que esse. Não tem a mínima chance desse time do Inter disputar alguma coisa apenas com os jogadores que tem. E isso parte da direção como um todo.
O presidente se esconde em momentos como esse e coloca toda a responsabilidade no departamento de futebol, que usando o velho discurso de sempre, se esconde na pandemia e na falta de dinheiro para contratações. Isso não mais é suficiente. O Inter necessita de pelo menos 5 reforços de nível de titularidade para não passar mais vergonha neste ano. Um lateral esquerdo de qualidade (Jorge?), um zagueiro confiável (já que Zé Gabriel oscila muito, Moledo não faz boas atuações e os outros são insuficientes), um meia central (Cervi?) e um meia direita.
Não adianta os dirigentes se esconderem com a desculpa das finanças, porque o sócio injeta receitas altas todo o mês no clube e quer retorno técnico. Somado a isso, a direção está pecando na comunicação com o torcedor. Em momentos de felicidade todos aparecem, mas em situações como essa, falta culhão para chegar e prometer “próximo clássico vamos ganhar”. Não fazem isso pois não tem capacidade de cumprir.
Individualidades e notas:
Lomba: não merece fardar mais, pois há tempos acabaram seus créditos. Hoje é um goleiro comum, chutam no gol e a bola entra. Ontem na partida, além de aceitar uma bola totalmente defensável, quase tomou um gol de cobertura que a bola lindamente foi saindo rente a trave direita. Nota 4.
Saravia: teve mais uma atuação média. Por momentos conseguiu anular o Pepê, mas no momento do gol, foi um dos culpados em não ter evitado o chute. Nota 5,5.
Zé Gabriel: é muito nervoso e está errando passes curtos que não pode errar. Pela atuação de ontem e pelas últimas 3 atuações, talvez deva ser preservado mesmo. Nota 5.
Cuesta: talvez a única notícia boa ontem seja que o nosso melhor zagueiro fez uma boa partida. Foi seguro e controlador em suas decisões. Nota 7.
Jussa: o pior em campo. Perdeu todos os confrontos no 1×1 e não bastasse isso, obrigou que o Boschilia recuasse para ajudar a dar suporte no lado esquerdo. Nota 3.
Musto: foi mal no jogo mais uma vez. Particularmente considero ele melhor que o Lindoso, mas ambos juntos não formam um Rodrigo Dourado. Triste. Nota 5.
Lindoso: foi muito mal no jogo mais uma vez também. Nota 4.
Marcos Guilherme: não deve ser titular mais. Foi apagado e perdido em campo mais uma vez. Nota 4.
Boschilia: foi muito bem defensivamente, e ajudou a tapar furos do Jussa. O problema é que esperávamos mais dele ofensivamente. Nota 5,5.
Galhardo: não foi decisivo, mas nas 2 vezes que foi acionado, ofereceu perigo a zaga do Grêmio. Nota 6,5.
Abel Hernández: foi acionado apenas uma vez na partida e quase fez um gol de voleio. Nota 6,5.
D’Alessandro: deveria ter entrado antes. Melhorou o jogo, pois colocou a bola no chão. Quase foi coroado com gol no final. Nota 7.
Leandro Fernández: apagado, distraído e não envolvido. Talvez por entrar na fogueira e ver um time desmoronando em campo. Nota 5,5.
Coudet: deveria ter corrigido o corredor esquerdo, mas não soube ler a partida. Somado a isso, efetuou apenas 2 substituições quando poderia ter feito 5. Foi o pior jogo de seu comando, e o responsável foi o próprio treinador. Nota 3.
A figura abaixo apresenta a distribuição de ataque e defesa do Inter durante o jogo (dados obtidos pela SofaScore). Ao mesmo passo que o Inter só atacou pelo lado esquerda com Boschilia, foi mais atacado pelo mesmo lado, uma vez que o Jussa chamava muito o marcador para cima de si.