Artur Bellini: Nada é de Graça

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Foto: Divulgação 


Escrevo este texto minutos após a última cobrança da disputa que garantiu ao Novo Hamburgo o título Gaúcho de 2017, escrevo com o intuito de mostrar que nenhuma derrota é de graça e que o Inter tem motivos para procurar melhorar. Tudo começa na lista de inscritos pelo Inter no campeonato Gaúcho e na imensa indecisão na hora de contratar, Inter começou o ano com claras deficiências, estavam por todos os lados e saltavam aos olhos de qualquer um, necessitávamos de jogadores para todo o setor defensivo, afinal Paulão, Ernando, Ceará, Geferson e Artur não possuíam juntos capacidade de comporem nem banco em um clube do tamanho do Inter. Precisávamos de volantes, nunca Fabinho e Anselmo supriram nossas carências e o jovem Charles apresentou oscilações normais para qualquer jogador de sua idade. No meio campo a escassez era ainda maior, Seijas faliu tecnicamente desde o inicio da pré-temporada e D’Alessandro aos 36 anos é um jogador que necessita de bastante cuidado, apesar de diferenciado o argentino começa a sentir o ritmo dos anos gloriosos de clube. 


Visto todos as urgências que se desenhavam nossa direção se lançou ao mercado mas de maneira quase que míope. Trouxe laterais e zagueiros aos montes, inscreveu quatro só pelo flanco direito no campeonato, porém simplesmente ignorou sua carência na linha central do gramado, protelou em tentar fazer de Anselmo alguma coisa que ele nunca foi e sucumbiu em partidas importantes por não ter peças necessárias para a função. Novamente então vamos ao mercado, mas dessa vez sem tempo de analisá-lo, muito porque Cirino, um jogador no mínimo questionável e de uma posição na qual o Inter não apresenta carência , nos levou preciosos três meses de esforços. Resultado? Dois volantes contratados as pressas e um de fora da lista final. Se já não bastasse as caneladas anteriores o meio de campo foi escanteado, sob as costas de nosso capitão se jogou um piano, nada é de graça.

Quem chegou aqui deve se perguntar o porquê de Antônio Carlos Zago não estar em momento nenhum ligado a queda de nosso time, bom agora é a vez dele. Zago é um treinador competente, não tenho dúvidas disso, tem em sua trajetórias alguns acertos mas dois grandes erros, e é por culpa deles que agora escrevo este parágrafo. Seu primeiro deslize começou cedo, pra falar a verdade, antes mesmo do ano efetivamente começar para o futebol. Zago abriu o ano com Nico Lopez no banco, primeiro para Roberson mais tarde para Carlos, convicções. Zago apresentou indefinições na zaga que deram lugar a mais convicções, Paulão e Ernando, e que convicções. Se já não ficou explicito o primeiro problema eu desenho, esse apresso por convicções furadas nos levou tempo e muita paciência. Creio que todo o técnico tem carinho por seus comandados, e não me levem a mal, isso é normal no meio do futebol, porém o gramado deve sempre falar mais alto, e quando a voz dele fraquejar o bom treinador deve admitir o erro e consertar, Zago não o fez e pagou, nada vem de graça.

O segundo erro é técnico, é esquemático e nesta final se fez gritante. Voltemos a época de Paulão e Ernando titulares, e de um time frágil defensivamente, que tomava contra-ataques de vez em sempre e cedia por todos os lados. Naquele momento o nosso treinador achou em um tripé de homens de meio a solução para os problemas defensivos, tornando o Inter um time mais reativo, que tinha a bola mas não subia suas linhas e pouco alimentava seus homens de frente. Quem observou a fase mata-mata deve ter notado que, jogo após jogo, o Inter subproduzia no primeiro período, sempre engaiolado em seu próprio campo com pouca capacidade de pressionar o adversário. O segundo tempo era sempre diferente, o time mudava na nominata, mas principalmente, na parte tática, a “árvore de natal” do 4-3-2-1 dava lugar a um 4-3-3 com muito mais mobilidade e combinação, o tripé se desfazia, Dourado virava monstro e o ataque voltava a brilhar, foi assim sempre e foi assim hoje. Mas daí vem a pergunta, porque não começar com o que vem dando certo? Perguntem ao Zago, não a mim, mais uma vez convicções, nada é de graça.

O último listado aqui é o Novo Hamburgo, o time de Beto Campos é pragmático, pouco movediço, tem um jogador “gordinho” como principal homem de frente mas apesar de tudo isso é merecedor de cada segundo desta festa que começa hoje, dia 07 de Maio de 2017. O “Nóia” soube aproveitar nossos erros, soube explorar a nossa bola aérea, que assim como muitas unidades que marcam em zona, cedia constantemente. Não é fácil ensinar como marcar por zona na bola aérea, isso é uma construção que leva tempo e eles sabiam disso. Souberam aceitar o Inter em seu campo quando Zago colocou o esquema que deveria nunca ter saído dele, na base da força de vontade, da competência pessoal de seu sistema defensivo e do ímpeto de cada atleta segurou dois empates e levou a decisão para os pênaltis, sagrando-se campeão após um grande desafio do travessão.

Mas e agora? O que fazer? Eu não acredito em troca no comando, creio que essa derrota serviu para o melhor esquema finalmente aparecer e para as obviedades finalmente serem respeitadas. Sem falar na dificuldade que é trocar o comando, ano passado vivemos isso, quando se troca o trabalho se muda toda a maneira dos jogadores pensar futebol, isso é cruel, seria o mesmo que reaprender todo o seu oficio de mês em mês, somente porque naquele momento nada esta saindo como deveria, ao meu ver não é a resposta. Inter tem de ir ao mercado, tem de abandonar seus fantasmas, sejam eles Paulão, Ernando, Ceará, Fabinho, Andrigo, Seijas e Anselmo ou o velho costume de falhar no planejamento a longo prazo, precisamos de um mercado forte no meio do ano, de uma nova cultura tática, mesmo que dentro do comando pré-existente e por fim aprender com o que acabou de acontecer, entender tudo que escrevi neste texto e melhorar. O futuro não parece tão obscuro assim, basta olhar pro passado e fazer de seus erros avisos, para à eles jamais retornar. Compreendendo que nada é de graça e que o campo deve ser sempre respeitado nós podemos ir além, somos gigantes e nada pode destruir isso, basta absorver os erros e seguir em frente.

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