Entrevista com o candidato à presidência do Inter, Guinther Spode

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No dia 15 de dezembro, no 2º Turno das eleições, o sócio do Internacional poderá votar e conhecer seu novo presidente para um mandato de três anos. Antes dessa data, nos dias 26 e 27 de novembro, ocorrerá o 1º Turno no Conselho Deliberativo, quando os Conselheiros votam as 2 chapas que irão para o pátio.

A Revista entrevistou os quatro candidatos ao pleito, para entender os planos de gestão de cada um, conhecer as ideias para o futebol do Inter e projetar permanências para o ano de 2021.  Ao todo, seis perguntas idênticas foram feitas aos candidatos. Em função da recente troca do comando técnico, houve uma adaptação na pergunta referente ao treinador para a próxima temporada. A publicação das respostas será de acordo com a ordem que cada chapa respondeu a entrevista.

O segundo candidato entrevistado é Guinther Spode, do Movimento Inter Grande (MIG). Confira:

Revista: Com a recente mudança no comando técnico, Abel Braga é um nome a ser debatido para renovação de contrato para próxima temporada?

Guinther Spode: Eu desejo que o Abel Braga tenha o mesmo sucesso que teve no Inter em 2006. Abel tem uma identificação muito forte com o Clube e principalmente com o torcedor colorado. Por isso, ele é sempre muito bem-vindo ao Beira-Rio. Mas vamos dar um passo de cada vez. Ele veio agora para conduzir o Inter até o final da temporada. Esperamos e vamos torcer muito para que seja com vitórias e conquistas. Depois disso é um outro momento tanto para o Abel quanto para o Inter.

Revista: Quais novidades ou diferenciais que a sua chapa tem em relação aos concorrentes e em relação à própria gestão atual?

Guinther Spode: Em primeiro lugar, sequer sabemos quais são as propostas dos demais, até porque elas serão formalmente postas apenas na reunião do Conselho Deliberativo, dia 26 de novembro. Até mesmo o programa de gestão da nossa chapa, apesar de já ter as suas linhas gerais e objetivos principais traçados, ainda está aberto a críticas e sugestões de nossos apoiadores. Adianto, contudo, que temos princípios e conceitos que balizarão todas as atividades de nossa gestão. A denominação da chapa indica claramente o horizonte que buscamos: JUNTOS SOMOS MAIORES.

Faremos de tudo para unir os Colorados em torno do Clube, para que ele não só seja administrado com excelência, acredite e invista no Futebol Feminino e, fundamentalmente na Base, mas que tudo isto nos leve não só a boas participações nas competições. Vamos vencê-las! Está no DNA do Inter ser campeão. E estamos no caminho de levantar taças novamente. Essa será uma obsessão nossa! Contudo, para atingirmos este objetivo temos de pacificar o Clube para que ele seja efetivamente o centro do objetivo de todos os Colorados.

A escolha dos nomes que integram nossa Chapa levou em conta um perfil adequado à missão de unir, de incluir. Numa equipe vencedora cada um tem a obrigação de bem desempenhar a sua função. Não raras vezes, os diferentes, exatamente por esta circunstância, formam uma equipe mais competitiva, porque uns completam os outros. Isto vale para tanto para o Futebol, quanto para a administração do Clube. Temos de pacificar o Clube, realizando uma gestão aberta, de inclusão e com permanente capacidade de autocrítica, mas que tenha no comando deste processo uma pessoa com carisma e respeitabilidade para fazer acontecer. Os movimentos que optaram pela nossa candidatura, por sua longa e tradicional trajetória vencedora dentro do Clube, certamente não devem estar equivocados.

Afora minha passagem pela Mesa do Conselho Deliberativo nos últimos19 meses, tenho experiência de mais de 12 anos dentro do Executivo do Clube, dez anos como Ouvidor-Geral e mais dois anos como assessor da Presidência do Clube. Trabalhei e convivi com quatro diferentes presidentes e em momentos diversos, mas vitoriosos na maioria dos anos. Frequentava o vestiário, viajava com frequência com a delegação, era próximo dos presidentes e dos principais dirigentes. Certamente, por isto e porque são testemunhas de que conheci todas as áreas do Clube, que eles me honram com o seu apoio. Faço questão que entendam a razão pela qual, não só sou um torcedor apaixonado, quanto me identifico umbilicalmente com o “Clube do Povo”. Nasci e cresci numa das vilas mais pobres de São Leopoldo (a então, Vila Pinto). Na infância jogava futebol descalço no meio da rua (sem qualquer pavimentação); joguei na várzea, onde sair e chegar em casa ileso depois de um jogo do campeonato local era uma façanha.

Não temo desafios! Vencer na vida foi o maior desafio. Ser alguém, saindo de onde sai, foi praticamente um milagre que só a fé e a persistência explicam. Meu pai, carpinteiro e a mãe, costureira e lavadeira, eram inteligentes, porém não tinham estudo. Despenderam toda a sua energia para que meu irmão e eu estudássemos. E, assim, a vida foi mudando. Na maior parte dela, primeiro como advogado, depois como magistrado concursado, tive de decidir sobre a vida, a liberdade, sobre o patrimônio das pessoas e empresas, de modo que sou calejado o suficiente para conduzir com serenidade, com diálogo, porém com firmeza, o Clube.

Algumas preocupações, todavia, me atormentam mais do que outras. A existência de 4 chapas concorrendo ao Conselho de Gestão, ao mesmo tempo que mostra que o Clube tem uma vida política muito ativa, demonstra, por outro lado, que estamos muito divididos, quando, em verdade, todos queremos exatamente o mesmo – um clube e um time vencedor!

Queremos um Clube dirigido por pessoas competentes, sérias e capazes de inovar e que realizem uma ótima gestão, profissionalizando áreas que, eventualmente, ainda não estejam, tudo para que cheguemos a grandes conquistas. Nossos adversários não estão dentro do Clube, mas fora dele! Vivemos nossos melhores momentos e obtivemos os melhores resultados quando todos os Colorados nos unimos em torno do Clube e em favor de um objetivo comum. Não podemos renunciar àqueles que são competentes e que se disponham a colocar o Clube acima dos seus interesses pessoais.

Tenho consciência de que necessitamos realizar séria autocrítica, pois somente assim vamos evoluir e inovar. Sem desprezar e confiar em nossa capacidade e virtudes, devo dizer que, em geral, os maiores acertos iniciam pelo reconhecimento de nossos próprios erros. Nossa proposta parte deste pressuposto: pacificar, unir, promover um ambiente propício e aberto à inclusão para almejar e chegar novamente às grandes conquistas. Temos experiência e conhecimento. Sabemos o que e como fazer.

Revista: A sua chapa pretende contar com Rodrigo Caetano em 2021?

Guinther Spode: Rodrigo Caetano é considerado um dos melhores executivos de Futebol do país. Granjeou este conceito graças à sua competência e trabalho exitoso por onde passou. Nós, como talvez qualquer clube do Brasil, gostaria de contar com ele no seu Departamento de Futebol. Sei que a atual gestão está conversando para mantê-lo. Vou cumprir o que for acertado/contratado. Como conselheiro, minha sugestão é a de que ele renove até o final dos campeonatos desta temporada. Quanto a cogitações futuras, não só em relação a este assunto, quanto a respeito de qualquer outro, prefiro respeitar o período eleitoral e suas definições antes de qualquer conjectura. Minha postura é falar e me posicionar sobre fatos e situações concretas. O que posso adiantar é que no dia seguinte à eleição, ele será uma das primeiras pessoas com quem farei contato.

Revista: O executivo de futebol é uma peça imprescindível no organograma funcional de sua gestão?

Guinther Spode: Sem dúvida. Assim como no futebol, em todas as demais áreas do Clube, os executivos, os profissionais devem estar presentes. As diretrizes, a política macro, as definições de objetivos e metas, são da competência do comando político, a começar pelo Conselho de Gestão, passando pelas Vice-Presidências e Diretores, mas a execução deve estar a cargo de profissionais que, cientes das linhas mestras a cumprir, devem ser respeitados no seu mister, sob pena de se tornarem figuras de custo elevado, sem que tenham a possibilidade de exercer suas qualidades e virtudes pessoais.

Exemplificativamente, refiro e comento algo que ocorre com muita frequência e mostra que muitas pessoas pregam a “profissionalização” do Clube, mas são os primeiros a gerar discursos e a promover verdadeiros levantes contra a profissionalização já existente. Basta que o treinador ponha em campo na equipe algum, ou alguns jogadores, cuja escalação não concordem, que já passam a agitar por meio dos seus contatos e redes sociais, pregando, pasmem, que a “Direção deveria intervir no vestiário”.  Este é um discurso muito comum, porém totalmente equivocado, contrário ao discurso pela profissionalização.

Especificamente quanto ao futebol masculino, dentre os nossos objetivos, está aproximar fisicamente as categorias de Base (e eventual equipe de transição) do grupo principal.

Revista: Qual o projeto para venda do naming rights do Gigantinho e do Beira-Rio?

Guinther Spode: Com respeito ao naming rights do Beira-Rio, temos um contrato a respeitar. Este contrato, extremamente favorável ao Internacional, resultou de extenuante e difícil negociação quando da reforma do estádio, tanto que a empresa que a realizou despendeu valores muito acima daqueles que projetara, mas honrou o contrato. De nossa parte, temos de fazer o mesmo. Isto se chama parceria e esta tem prazo determinado: 20 anos. O bom relacionamento com o parceiro é fundamental para que o contrato seja conduzido durante o período e chegue a bom termo no final. Segundo este contrato, eventual valor que venha a ser obtido com a negociação do naming rights, pertence ao nosso parceiro, como parte da retribuição dos elevados valores que investiu em nosso belíssimo estádio.

Em relação ao Gigantinho, está em andamento um procedimento que, depois de uma licitação pública, na qual poderiam participar quaisquer empresas ou investidores, quatro consórcios de empresas se habilitaram. Apresentadas as propostas, depois delas serem submetidas a uma avaliação prévia pela Vice-Presidência de Negócios Estratégicos e pelo Conselho de Gestão, foram encaminhadas à apreciação do Conselho Deliberativo. Naquele órgão (o Parlamento do Clube), a Mesa Diretora encaminhou as propostas para serem avaliadas pelas Comissões Patrimonial e a de Gestão de Negócios. Ambas apresentaram parecer fundamentado. Num momento seguinte, até mesmo por sugestão das Comissões do Conselho, o expediente retornou ao Conselho de Gestão que chamou os interessados que haviam apresentado suas propostas, convidando-os a melhorá-las.  Deste chamado, resultou que uma das habilitadas apresentou proposta com avanços. Submetidas as propostas ao Conselho de Gestão, este Colegiado se posicionou entendendo que uma das propostas deveria ser a escolhida. No passo seguinte, convocou o Conselho Consultivo (presidido pelo Presidente do Conselho de Gestão e composto pelos membros natos do Conselho Deliberativo) para se pronunciar sobre as propostas, havendo aquele Conselho se posicionado favoravelmente à mesma proposta escolhida pelo Conselho de Gestão. Depois disto, o expediente, já com uma carta de intenção assinada com o consórcio sugerido pela Gestão, foi encaminhado ao Conselho Deliberativo que o apreciará e deliberará, aprovando ou não a proposta de negócio.

Dentre os inúmeros itens objeto do negócio que está sendo gestado, por evidente que o naming rights será objeto de detalhamento que, por se tratar de proposta e porque poderá ser objeto de ‘reserva de confidencialidade’, mesmo que saiba do que foi sugerido, não posso, por ora, divulgar, até porque, somente após a aprovação pelo Conselho Deliberativo é que o detalhamento do projeto e do contrato a ser firmado serão discutidos, escritos e assinados formalmente, nos moldes do que ocorreu com o Beira Rio.

O que posso adiantar é que o negócio será rentável para o Clube e o Gigantinho seguirá a linha arquitetônica do Beira-Rio. Será, sem dúvida, mais um motivo de orgulho e alegria dos Colorados, além de embelezar ainda mais uma das áreas que hoje já está dentre as mais atraentes e bonitas de nossa capital.

Revista: O Inter, se comandado pelo conselho de gestão encabeçado pelo senhor, se compromete a fazer um 2021 sem déficit e com um time competitivo para que próximo treinador possa nos colocar novamente no caminho dos títulos?

Guinther Spode: O compromisso de realizar uma gestão competente e austera inclui o objetivo financeiro-econômico de reduzir ou eliminar por inteiro o déficit. A pandemia gerou efeitos negativos em toda a economia. Nosso Clube foi afetado como todas as demais atividades. Apesar das despesas terem sido reduzidas significativamente, mediante medidas adequadas adotadas e um esforço geral pela redução de gastos, a queda nas receitas foi ainda mais perversa, até porque a atividade fim da instituição, em grande parte (as rendas dos jogos e outras periféricas dos match day), simplesmente não aconteceram devido às restrições de ordem sanitária que até agora ainda vigem, impedindo a realização de jogos com torcida, por exemplo.

Sob este aspecto talvez tenhamos sido atingidos numa dimensão mais profunda e séria do que outros clubes, eis que, ao contrário da grande maioria, nossa maior receita está diretamente ligada às atividades do futebol, como, por exemplo, a receita com o quadro social, patrocínios e dos jogos. Nosso associado, com grande sacrifício, mesmo não podendo ir ao estádio, seguiu honrando suas mensalidades. Ocorre que a previsão era de incrementar a receita com o aumento do quadro associativo o que não ocorreu, pelo menos como previsto. Com muita dificuldade foi mantido, mas com o percentual de inadimplência tendo crescido.

Vamos dar a volta por cima, todavia, o momento implica restrições em relação às quais não temos ingerência e que ainda continuam gerando efeito nefasto para as finanças do Clube.

Temos um plano de como atacar a situação, mas que me reservo o direito de não divulgar porque é estratégico, não do ponto de vista eleitoral, mas tendo em vista o respeito às instâncias internas e para a proteção dos interesses do próprio Clube.

Nosso compromisso é de manter uma equipe competitiva, com maior qualificação do grupo, a partir de contratações pontuais e o uso mais decidido de atletas procedentes da Base. Temos de aproximar a base do time profissional, assim o seu aproveitamento será, por consequência, mais efetivo. E gerará frutos dentro de campos e também aos cofres do clube.

O aprimoramento da participação do CAPA (Centro de Análise e Prospecção de Atletas) em todas as contratações (que devem ser respaldadas pelo Centro), a melhoria contínua da performance a partir do uso do CAD (Centro de Análise e Desempenho), assim como novos métodos de métrica de performance, fazem parte de nosso programa de gestão.

A conquista de vitórias dentro de campo é resultado da boa gestão e ações efetivas dentro do Clube. Estes são alguns dentre muitos outros mecanismos de ação que adotaremos para nos levar de volta ao caminho dos títulos que o torcedor espera e, mais do que tudo, merece!

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