Unidos? jornalista faz análise “preocupante” envolvendo Inter e Grêmio

Ricardo Duarte / Internacional
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Na última terça-feira, no Maracanã, o Grêmio foi eliminado pelo Fluminense nas oitavas de final da Libertadores. Desta forma, o rival, assim como o Internacional, disputará somente o Brasileirão até dezembro e completará mais uma temporada sem um grande título.

Diante deste cenário, aliado aos problemas financeiros da dupla Gre-Nal, o jornalista Alexandre Alliatti publicou um texto no portal “GE” detalhando suas preocupações com o futuro das equipes. Um dos argumentos utilizados por ele, por exemplo, é a diferença no poder de investimentos em comparação com times como Palmeiras e Flamengo, ou diante de clubes que viraram SAFs.

Confira o texto de Alexandre Alliatti na íntegra:

O futebol gaúcho amanheceu nesta quarta-feira com seus dois gigantes lutando contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro – lutando contra o rebaixamento e nada mais.

A eliminação do Grêmio nas oitavas de final da Libertadores, nos pênaltis, para o Fluminense, terminou de desenhar um cenário desanimador para os rivais de Porto Alegre. Mas o que mais preocupa nem é o agora: é o amanhã.

À queda tricolor na Libertadores, somam-se as eliminações da dupla Gre-Nal na Copa do Brasil (o Grêmio para o Corinthians nas oitavas de final, o Inter para o Juventude ainda antes, na terceira fase). O Colorado ainda foi derrubado pelo Rosario Central nos playoffs da Sul-Americana – depois de não conseguir liderar um grupo que tinha Belgrano, Delfín e Real Tomayapo.

A enchente que devastou Porto Alegre também machucou o futebol. A Arena do Grêmio é um colosso que brota na zona norte da cidade, quase no limite com Canoas. E ela ficou abaixo d’água. Já o Beira-Rio surge, lindo, na orla do Guaíba, lá onde o bairro Menino Deus começa a dar espaço à zona sul. E ele também ficou abaixo d’água. Dois estádios, dois emblemas do futebol gaúcho, um em cada canto de Porto Alegre: ambos atingidos pela enchente.

Seria desonesto comentar a temporada frustrante de Grêmio e Inter sem sublinhar o enorme impacto da tragédia. Enquanto os adversários treinavam, jogadores dos times gaúchos estavam em cima de barcos ou em centros de distribuição de donativos. Os elencos da dupla Gre-Nal ficaram cerca de duas semanas sem treinos presenciais. Quando voltaram, foi para treinar em CTs improvisados e para jogar em estádios alheios. E isso tudo no meio dos campeonatos. O prejuízo é gritante.

Mas também é preciso resistir à tentação de achar que a enchente explica tudo. Ela foi, com sua surpresa devastadora, a pior parte de um problema mais permanente, para o qual Grêmio e Inter precisam se atentar com urgência: o fato de que eles correm sério risco de ficar para trás em um momento de mudanças profundas no futebol brasileiro.

A dupla Gre-Nal não tem, e não terá, a capacidade financeira de Flamengo e Palmeiras, muito mais organizados do que há poucos anos. Competir com rivais tão ricos já seria complicado – embora tenham conseguido repetidas vezes no passado. E agora, em tempos de SAFs, grana estrangeira e mecenas, a disputa ficou ainda mais complicada.

Um caminho natural seria se tornar SAF ou aceitar a chegada de investidores externos. Mas não é tão simples. Por dois motivos principais: pelo apreço inegociável que o gaúcho tem por aquilo que é seu e pela estrutura altamente política das diretorias nos dois clubes.

Grêmio e Inter se confundem com a cultura riograndense. Não são equipes de futebol: são parte do que o gaúcho é, de como o gaúcho se reconhece. Mexer nisso, mais do que em outros lugares do Brasil, é um processo delicado. E a força de grupos políticos dentro dos clubes também é um freio – o presidente é eleito, o vice de futebol é amigo do presidente, o diretor de futebol é amigo do vice de futebol (e o executivo de futebol, quando existe, tem poderes limitados).

A isso, podemos acrescentar a defasagem na estrutura física de Grêmio e Inter. Embora tenham ótimos estádios, seus CTs não são de primeira linha. Athletico, Cruzeiro e Atlético-MG, para citar alguns exemplos, estão à frente.

Por todos esses elementos, vejo com muita preocupação o futuro da dupla Gre-Nal. Torço para estar sendo apenas pessimista. Tenho profunda devoção à grandeza de Grêmio e Inter. São dois clubes impressionantes, cuja força tive o prazer de testemunhar ao longo da vida, como torcedor e como jornalista. Aqui em Porto Alegre, nesse cantinho no Sul do mundo, de onde escrevo esse texto, há mais Mundiais e o mesmo número de Libertadores do que no Rio de Janeiro, que tem o dobro de clubes grandes. Não canso de me espantar com isso.

Não acredito que algum deles será rebaixado. Acho que ambos escapam. Mas há, sim, risco para ambos – basta ver algum jogo do Inter para admitir que o argumento das partidas atrasadas é uma espécie de miragem: o time se arrasta em campo, destruído fisicamente e desnorteado na ideia de jogo.

De qualquer forma, já há um alerta no fato de chegarmos ao último trimestre do ano com nada além da luta contra o rebaixamento para disputar. Não é normal. Não pode ser o novo normal“.

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